quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Portas e janelas

Preparo-me para deixar 2009. Ao preparar-me para abrir a porta a 2010, começo a perceber que este foi um ano de transições. O ano em que, pela primeira vez, comecei, realmente, a sentir-me envelhecer. O ano das primeiras indisfarçáveis rugas, o ano em que o corpo começou a reagir de forma diferente, o ano em que os mistérios do mundo começaram a parecer um pouco menos acessíveis.

É uma segunda adolescência, uma segunda passagem. À minha frente, vejo, embora distante, o fim; mas não estou assustado. Até lá, muitos novos inícios ainda se insinuam, prometendo outras vidas, como caixinhas dentro desta caixa. No fundo, também este corpo é uma caixa e acredito que ela se está a desfazer apenas para deixar-me sair. Bem-vinda nova adolescência. Eu vou a caminho.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vidas perfeitas

Hoje dei por mim a pensar nas pessoas que têm vidas perfeitas. Elas existem, é verdade. Sempre pensei que fossem mitos da ordem do Nessie, do Yeti e de outros monstros imaginários, mas a verdade é que elas existem: pessoas que têm vidas organizadas, com bons empregos, filhos bonitos, saudáveis e educados, casas limpas e arrumadas; enfim, com vidas tão limpas e arrumadas como elas próprias. Pessoas bonitas, com peles imaculadas, que ficam bem nas fotos, que acordam já penteadas e com ar irritantemente fresco.

Há duas formas de lidar com esses monstros perfeitos: amá-los ou detestá-los. De certa forma, nunca, porém, pude deixar de os invejar. Para me consolar, penso que as dificuldades e os espalhanços vários que dei ao longo dos anos acrescentaram-me sabedoria, que as rugas me dão carácter e as cicatrizes, estilo. Mas a maior parte das vezes, sei que isto é conversa de treta na qual nem eu acredito.

Já amei pessoas perfeitas, mas as minhas cicatrizes e ar queimado não davam bem com as paredes imaculadamente brancas do seu caixão. Vidas perfeitas são tão vívidas e verdadeiras como os sonhos de um comatoso. Se é que eles sonham. A verdade é que quando olho para estas pessoas e suas vidas perfeitas, quero acreditar que alguém está, de facto, em coma: ou elas ou eu.

terça-feira, 28 de julho de 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Parto




A natureza tem uma sabedoria muito própria mas que assenta num princípio básico: não há fim que não dê origem a um início. O lobo morre para alimentar a erva que a ovelha come. Outros lobos comerão a ovelha.

Não sei se sou lobo ou ovelha, na verdade, acho que sou ambos. Algo morreu e algo nasceu. Todos os partos têm dor. Este não é excepção.

Bem vindos.